sábado, 24 de setembro de 2011

O corvo sorri.


Ironizar, alternativa de viver. Diz o poeta do amor, que ainda crê nisso.

  • Pobre infeliz, não se consegue razão nessa circunstancia. - Fala o corvo aos sussurros - ,

Ainda confuso com a fala do pássaro que antes vivia apenas em contos de Poe, sem saber o que acontece com sua realidade o poeta acende mais um cigarro e caminha até a janela paralela a que o corvo putrefaciente esta. Respira com dificuldades, seu pulmão não responde a sua necessidade. Com peito frenético, agudo, lança seus dedos úmidos aos botoes de sua camisa velha. A brisa leve da primavera alivia o suor, suas pálpebras dilatadas correm o olhar na avenida movimentada, ela não esta ali, ele ainda a vê, a sente, o lençol ainda não foi lavado, serve de adorno nas noites tensas.

Como tatuagem perene na sua vida.

  • Ela virá até você, virá como cobras no silencio, pulsante, intransigente!

Como punhais, as palavras grunhidas pelo Corvo prevem o infarto já desejado pelo infame néscio. Então um sorriso amarelado pelos maços intermináveis de cigarro surge no sujeito irônico. Sorri para morte como um espartano sorri para o inimigo incapaz em batalha. Grunge em silencio mórbido: - não es tu que me desespera. Não sois você que desejo, espera foice inevitável, abraçarei sua vontade, mas não hoje.

Em sua primeira dose de heroína o poeta já gozou seus delírios, agora vive o explendor que seu organismo promove ao tentar eliminar aquela substancia acida. Semana pós semana as doses tornam-se rotina. Alivio imediato. Ele quase não lembra os motivos que o deixa triste, enquanto isso o menino cadeirante mendiga no sinal, de sua janela ele joga uma seringa, o menino sorri.


Jordane Câmara.

Um comentário:

Alceu Kunz disse...

Fantástico!

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